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Espiritualidade em tempos de pandemia

 As diversas e distintas civilizações e culturas, sempre recorreram a explicações de natureza religiosa ou esotérica para explicar os dramas humanos; profecias ou fenômenos naturais como a morte, possuem argumentos aleatórios que no fim, termina no objetivo da dominação coletiva e que beneficia um determinado grupo o qual detém o controle de uma sociedade.

 Além da morte, a própria vida de sofrimento e privações pela qual parte significativa da humanidade sofre, também é filosoficamente explicada pelas doutrinas iniciáticas, que fogem do tradicionalismo das religiões comuns e mais densamente seguidas por milhões de adeptos, tais como, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. 

 Doutrinas de origem mais orientais em que estão inseridas o hinduísmo, o taoísmo ou o budismo, evocam abordagens mais complexas e portanto, de conotação mais profundas que das filosofias religiosas tradicionais, pois evocam a ideia de vida além do plano material ou até mesmo, anterior à ele. No Brasil, a derivação cristã-católica, na qual resultou na seita que mais se assemelhou a este aspecto, foi o espiritismo kardecista.

 Uma visão que deu um significado maior para o que Jesus mencionava nos Evangelhos ao redor do conceito propagado por ele de "vida eterna", em que está inserida a ideia de reencarnação; isto é, uma mesma consciência cósmica, que precisa passar por seguidas experiências (geralmente desagradáveis) no plano material, para evoluir espiritualmente.

 Nessa concepção cristã de vida eterna, em que se encontra o conceito kardecista de reencarnação, também se associa a noção da palavra indiana sânscrita "karma", que quer dizer "ação", na qual se relaciona ao hinduísmo e ao budismo. O karma é exatamente a principal razão para a qual se explica as seguidas necessidades de um espírito reencarnar.

 Dessa forma, de acordo com as leis kármicas, caso uma pessoa agisse mal em uma vida, precisaria reencarnar para poder "resgatar" aquilo de ruim que fez. 

 Ou seja, o ser, sofreria algo precisamente igual ao sofrimento imposto a outras pessoas, enquanto esteve na condição de poder. Em tal caso, se o espírito enquanto encarnado foi um monarca tirano por exemplo, o mesmo voltaria à vida material, como um escravo o qual sofreria o mesmo que impôs a outros, até resgatar tudo de ruim o qual tenha feito contra outras pessoas.  

 A conceituação de karma portanto, adota um determinado aspecto muito próximo ao que se convencionou chamar na vida materialista de "meritocracia" (onde somente os mais disciplinados, esforçados, dedicados, trabalhadores e inteligentes, conseguiriam sucesso financeiro e ascensão social). 

 Inspira ainda, sob determinadas circunstâncias, semelhanças com a doutrina evangélica protestante conhecida como "teologia da prosperidade" (porém, numa conotação de tempo que extrapola uma única existência no plano material e que só seria desfrutada em uma futura experiência de vida física).

 Assim, uma pessoa também poderia ser premiada numa vida posterior em que nasceria numa família rica e livre de situações conflituosas, que lhe impusesse qualquer tipo de sofrimento - caso em sua experiência de vida material anterior, tivesse adotado um comportamento pacífico, a despeito de todas as dificuldades sofridas. Para situações como esta, existe o termo (também sânscrito) conhecido como "dharma" em ideia oposta ao do karma.

 Sob tal aspecto, bênção e maldição estão plenamente intrincados com as ideias opostas de virtude e mau-caratismo, os quais se chocam ao antigo conceito cristão como o pecado e que em antítese à ele, outros aspectos tais como: piedade, misericórdia e perdão, que passam a ser menosprezados.

 Portanto, se alguém comete um ato negativo, precisa responder por ele (por mais arrependido e contrito que demonstre estar); e do ponto de vista moral, o conceito de injustiça, também se perde, pois uma vez que a pessoa sofre, logo ela estaria apenas prestando contas daquilo que impôs em sofrimento a outras pessoas em vidas pretéritas. 

 Também se enquadram aí, acontecimentos aos quais são vistos como "fatalidades", tais como acidentes em que uma pessoa morre ou adquire certa deficiência física em decorrência de um sinistro, além de incursões militares de guerra ou operações policiais supostamente de combate ao crime em que pessoas inocentes acabam mortas ou com suas integridades físicas comprometidas.

 Mas é preciso mencionar ainda, crises sanitárias globais como a que estamos vivenciando na atualidade, gerada a partir de seu epicentro inicial, através da pandemia de Covid-19, na cidade de Wuhan, na China. 

Laércio Fonseca, é conhecido no meio
como um dos maiores difusores de doutrinas
esotéricas orientais que pregam o karma e a
reencarnação como ferramentas de
evolução espiritual (foto: Reprodução/ YouTube).

 E se caso um ser espiritual, não tenha nada a resgatar por estar vivendo sua primeira experiência encarnada na matéria, ainda sim, precisa sofrer para ter a compreensão das sensações desagradáveis e através delas, buscar evoluir espiritualmente, no cuidado é claro, de não cometer nada de desabonador, para que seja preciso passar por outra experiência kármica para resgatar aquilo que porventura tenha feito de ruim em sua vida anterior.

 Dentro dessa abordagem espiritualista, a noção observada se afirma na busca por uma adaptação a antigos e ultrapassados conceitos religiosos os quais buscavam explicar crises existenciais subjetivas humanas, não enquadradas cientificamente como fenômenos sociológicos e que indireta, involuntária ou propositalmente busca fugir de pautas que responsabilizem estruturas dominantes de poder com relação a injustiças e desequilíbrios sociais de todos os matizes.

 Por outro lado, nem é preciso dizer que sob a perspectiva social, a visão espiritualista ao redor do karma e das reencarnações, termina por sonegar aspectos da sociedade vistos dentro da democracia e das liberdades civis e individuais, às quais acabam restringidas por tudo aquilo que um indivíduo enquanto materializado em seu corpo, se vê limitado por supostas extravagâncias e excessos cometidos em vidas anteriores. 

 São discursos que só favorecem aqueles que dominam e controlam sociedades, sejam pela força política ou pelo poder econômico privado. Estariam mesmo errados, os socialistas que criticam doutrinas religiosas comparando-as a narcóticos, exteriorizada na célebre frase: "a religião é o ópio do povo"?! 

Quem sabe!

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