Artigo de José Paulo Kupfer
do jornal O Estado de S. Paulo
do jornal O Estado de S. Paulo
Não foi o que o governo projetava, mas também não chegou ao pessimismo de muitos analistas. Nem 4,5%, como queria Brasília, nem 2,5%, como imaginaram economistas críticos, nem mesmo 3,3%, conforme o último Boletim Focus de 2012. O PIB de 2013 cresceu 3,7%.
Foi um resultado suficiente para manter sob pressão tanto o mercado de trabalho quanto os índices de preços. Na virada para o ano eleitoral de 2014, último do primeiro mandato de Dilma Rousseff, a taxa de desemprego continuou baixa, não passando de 5,5%, assim como o IPCA, contrariando o Banco Central, não convergiu para o centro da meta, embora tenha fechado em 5,4%, abaixo dos 5,7% do ano anterior.
Essa permanência dos índices de preços em zonas desconfortáveis se deveu em parte à nova redução do superávit primário fiscal, em relação à meta. Reprisando o ano anterior, a margem das receitas públicas sobre as despesas, sem considerar os gastos com juros da dívida pública, ficou pouco acima de 2% e longe da velha meta de 3,1% do PIB. A redução dos gastos com juros, no entanto, assegurou espaço para novo recuo no volume de dívida líquida pública em relação ao PIB.
Com reduções nos custos de energia e isenções generalizadas dos encargos nas folhas de pagamento, os investimentos, tão ansiados, deram o ar da graça e, finalmente, registraram expansão no ano. O crescimento foi até razoável, mas o avanço de 6% no período mal recuperou o forte recuo do último ano. De todo modo, os estímulos adotados em 2012, reforçados pelo ciclo natural de inversões, após longo período de acumulação de estoques, indicaram uma tendência de aumento da oferta.
Ainda assim, para crescer, a economia continuou dependente do consumo. Nesse aspecto, a combinação da manutenção dos descontos em impostos para bens duráveis com avanços, mesmo que mais moderados, na massa salarial e no crédito, desempenhou papel relevante. O clima favorável, os preços suficientemente atraentes e o crédito razoável impulsionaram a agropecuária a crescer em ritmo superior a 6%.
Mas a melhor notícia foi a de que a indústria esboçou uma primeira reação com mais consistência. Destaque para o segmento crítico de bens de capital, com expansão acima de 20%, depois de uma queda de 10% no ano anterior. Puxado por bens de capital, o pesado trem da indústria cresceu, no ano, depois de longo período de recuo, em torno de 4%.
Mudanças anteriores nos juros e no câmbio tiveram influência positiva na melhora do ambiente econômico. Propriamente no ano, as duas taxas permaneceram no nível em que já se encontravam – 7,25% e R$ 2-2,10 por dólar, respectivamente. Vale lembrar, nesse aspecto, que, embora o déficit em conta corrente tenha sido mais largo, refletindo redução do superávit comercial, os investimentos externos diretos, por mais um ano, cobriram praticamente todo o saldo negativo das contas externas.
O cenário internacional, ainda travado, mas com menor grau de incertezas, também ajudou na relativa retomada experimentada pela economia brasileira. A economia internacional cresceu 3% no ano, mas, de novo, o número médio escondeu desequilíbrios. Outra vez, como se observa há meia década, os emergentes continuaram a puxar o ritmo de crescimento, enquanto os países maduros contabilizaram mais um período de atoleiro.
Os Estados Unidos, por exemplo, escaparam do abismo fiscal depois de um acordo repleto de ressalvas, que, no fim das contas, não ajudou a impulsionar a economia, se bem que não a empurrou para trás. A responsabilidade de manter o nível de atividades em terreno positivo permaneceu sobre os ombros do Banco Central e o resultado foi mais do mesmo, com crescimento e taxas de desemprego repetindo, com variações não significativas, os números do ano anterior.
Também na Europa não apareceram muitas luzes no fim do túnel. O Banco Central Europeu continuou a injetar recursos nas economias debilitadas, esforçando-se para evitar descontroles na rolagem das dívidas dos países mais afetados pela crise na zona do euro. No balanço geral, crescimento muito baixo, inclusive na Alemanha, foi a marca econômica de mais um ano, na região.
Fato importante foi a estabilização da economia chinesa, num ritmo de crescimento de 7,5%, nos dois últimos anos. Com isso, garantiu-se, igualmente, alguma estabilidade, em níveis relativamente altos, nas cotações das commodities. Países do sul da Ásia, Índia incluída, seguiram a onda, que ainda impactou, favoravelmente, a África e a América Latina – a região teve, no geral, um ano econômico um pouco melhor que o anterior.
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Esta “retrospectiva” do ano que está começando é um exercício de projeção, a partir de um balanceamento de previsões de conjuntura de diversos analistas nacionais e internacionais. O viés é otimista, mas não fora da realidade possível. A mensagem é de esperança, acompanhando os votos de feliz novo ano a todos.
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