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Arraiá da economia: "o PIB cresceu! É mentira" (a arrecadação que caiu)

 O governo bem que ensaiou uma comemoração sobre o que foi interpretado pela equipe econômica como "retomada do crescimento", mas que passados alguns dias e a divulgação total do volume de impostos arrecadados, demonstrando o que poderia sinalizar o fim da recessão, que porém já se apresenta mais com ares de depressão, não correspondeu bem a realidade ou às expectativas governamentais. 

 O Produto Interno Bruto (PIB), brasileiro, cresceu 1% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o último trimestre de 2016. No acumulado de quatro trimestres até o primeiro de 2017 contudo, a queda no produto nacional foi de 2,3% em relação ao mesmo período, imediatamente anteriores. Muito longe portanto de representar uma retomada significativa da atividade econômica. 

 Em contrapartida o mercado enxerga que o déficit fiscal do governo, acabe sendo maior que o estimado para este ano. Enquanto a meta do governo é de um déficit de R$ 139 bilhões, o mercado projeta que o rombo nas contas públicas seja de pouco mais de R$ 10 bilhões, além do previsto pela equipe de planejamento do presidente Michel Temer, em exatos R$ 140,64 bi. 

 Isso porque o resultado comemorado no crescimento trimestral de 1% do PIB, não foi capaz ainda de alavancar a arrecadação. A elevação do déficit se dá sobretudo por conta dos acumulados na queda da atividade econômica, que como afeta no aumento do número de desempregados, acaba por impactar negativamente também, no nível de arrecadação de impostos do governo, tendo em vista que o meio de tributação no Brasil, ocorre de forma indireta e incide predominantemente no consumo.

 Dessa forma, a arrecadação do governo depende do desempenho do comércio que por sua vez impacta na indústria e também nos serviços, e assim, se ocorrer de forma reduzida (como vem acontecendo), prejudica as receitas governamentais, impedindo o ente público federal de cumprir com suas metas fiscais, de acordo com o programado por sua equipe econômica. 

 E o mais preocupante é que o governo não manifesta nenhuma ação que possa alavancar o crescimento econômico de forma robusta e contínua, já que também não dispõe de quase nenhuma margem de manobra fiscal para impulsionar o crédito e tampouco tem interesse em usar os bancos públicos na oferta de novas linhas de financiamento, quando se observa ainda, a queda dos níveis de inadimplência. 

 A autoridade monetária na figura do Banco Central, mais especificamente em seu órgão colegiado - o Comitê de Política Monetária (Copom) -, responsável pela decisão sobre a definição da taxa de juros, entretanto, sinaliza que pode interromper a sequência de quedas nos cortes da taxa oficial Selic, balizadora das demais no mercado financeiro. 

 Juro elevado compromete a retomada do crescimento pois, com isso o empresariado fixará suas metas em custos de oportunidade, aplicando em operações financeiras que lhe rendam mais que o investimento na ampliação de sua produção. Dessa forma com ganhos maiores em função do rentismo financeiro - em detrimento do que se poderia auferir com o investimento direto e que geraria mais empregos -, o empresário não enxerga vantagens no investimento produtivo.

 Com isso a taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que é o índice em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se ampara para medir o nível de investimento produtivo sobre a economia - e que pode determinar um horizonte de crescimento econômico para o médio prazo -, ficou em 1,6% (negativos), enquanto outros balizadores de crescimento do PIB como o consumo das famílias caiu 0,1%, e do governo 0,6%.  

 O que sensivelmente também, prejudica a retomada do crescimento, é uma prática extremamente danosa ocorrida no varejo do segmento de móveis e eletrodomésticos em que se verifica a prática de venda casada de derivativos - como garantias estendidas, proteção premiada (seguros de vida) e até cursos à distância os quais o consumidor jamais fará, por nem saber que está pagando por eles.

 Dessa forma as redes varejistas lucram muito mais, com a comercialização de serviços embutidos do que com a própria venda dos produtos comercializados oriundos de seus estoques físicos, que em meio a prestações de mobílias, televisores, geladeiras, fogões e lavadoras adquiridos, após assinarem contratos de financiamento para a aquisição de alguns desses bens, induz consumidores a pagarem um valor equivalente a dois ou três produtos por somente um (fora juros, taxas e IOF). 

 Essa prática também acaba impactando a indústria que reduz seu ritmo de produção aumentando o hiato de sua capacidade instalada e consequentemente ainda, afetando no resultado percentual da atividade econômica medida pelo governo. 

 Assim, entre mentidos e desmentidos, o governo tenta emplacar falsos alentos, ou mesmo também, dissimular seus fracassos. Sendo que enquanto não corrigir distorções da economia, como uma reforma tributária que promova a justa distribuição progressiva de impostos a todos, de acordo com suas rendas (em vez de tão somente precarizar relações trabalhistas e de futuras aposentadorias), o Brasil não terá ciclos longos de crescimento. 

 O governo Temer tenta dessa forma se legitimar no cargo, que em pleno período de festas juninas, só o que sabe fazer é anunciar coisas que não existem, como fazem os marcadores de danças de quadrilha das comemorações típicas de meio de ano.    

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