Pular para o conteúdo principal

O discreto ódio de Elio Gaspari

Artigo de Antônio Machado, extraído do blog Vi o Mundo de Luiz Carlos Azenha

 O discurso da direita é obtuso, sinuoso, embiocado. Ora mais, ora menos, mas inevitável e necessariamente. Afinal, de que outra forma defender uma injustiça, justificar o indefensável?

 Em sua coluna de quarta-feira na Folha de S.Paulo, o jornalista Elio Gaspari resguarda os xingadores da presidente da República – a doutora Dilma, como ele a chama –, já tão repreendidos pela mídia independente. “Argumente-se que o grito foi típico da descortesia dos estádios”, pondera.

 A intenção já se define pelo título: “O ódio ao PT e o ódio do PT” (http://naofo.de/g0r). Gaspari, experimentado, não endossa o coro dos desaforados.

 Se os protege, é com cautela – e sem apologia, é claro. Põe-se de fora, pretensamente alheio ao ódio manifestado de parte a parte.

 Cita comentários de internet e conclui: “Se a rede for usada como posto de observação, os dois ódios equivalem-se e pouco há a fazer”.

 Alto lá! Não é o anonimato da rede que deve ser tomado como posto de observação, mas a própria imprensa, a própria Folha.

 A imprensa e as declarações de gente pública como Paulinho da Força, Aécio Neves, na linha do “colheu o que plantou”, “mandou para onde tinha que mandar”.

 À bem da verdade, o mal não seria propriamente o ódio, mas como ele se manifesta, de quem vem, a quem se dirige e por quê.

 Ou o doutor, do alto de sua imparcialidade, acha que odiar o pobre que anda de avião – para usar um exemplo batido, que é também o dele – equivale a odiar o rico que se queixa do aeroporto que virou rodoviária?

 Não digo que pertença à elite todo aquele que não gosta do PT. Há até ricos que gostam e outros que, não sendo, dele não gostam justamente por julgarem-no elitista. Mas o leitor da Folha sabe porque ela não gosta do PT.

 Na quinta-feira, outra vez no estádio do Corinthians, o jornalista José Trajano, da ESPN, homem de 68 anos, se preparava para entrar ao vivo quando foi chamado de “petista filho da p*” e ameaçado de morte.

 A exclamação veio de um torcedor de 30 anos, um e noventa de altura, que avançava sobre as grades que o apartavam da imprensa.

 Parêntese. Coisa de um mês atrás, o amigo que presenciou e relatou a referida cena é quem foi a vítima. Repreendeu um desconhecido que atirava um folheto no chão e ouviu de volta: “Vai se f*, seu comunista! Comunista! Você é um petista, seu petista!” (http://bit.ly/TfCGil)

 Voltando ao caso do Trajano, seria só uma ocorrência avulsa, embora corriqueira; um desvario como o daquele que hostilizou Joaquim Barbosa. Novo parêntese.

 O mesmo sujeito que ultrajou Barbosa foi atacado pelo senador Aloysio Nunes no Congresso Nacional, num episódio que chamou bem menos atenção (http://bit.ly/1lTtyqc).

 A’O Globo, o senador ainda avisou: “Só não dei um pescoção porque ele correu mais do que eu!” (http://naofo.de/g0v)

 Pois seria só mais uma, não fosse a campanha de ódio contra Trajano promovida por Reinaldo Azevedo, blogueiro e colunista da mesma Folha – aliás, escalado pelo jornal para comentar as “palavras não muito gentis à presidente” – e levada às últimas por sua claque.

 Desnecessário reproduzir os impropérios de Azevedo a Trajano, mencionado em nada menos que seis postagens do autor. Quem o conhece pode imaginar.

 Não se sabe ao certo o que despertou a ira do blogueiro: se o fato de Trajano reprovar a grosseria contra Dilma, de “pagar pau aos esquerdistas” ou de dizer que Azevedo é semeador de ódio (http://bit.ly/1uMfu7q).

 Pelo tamanho da reação, bastava ter se referido a Dilma como presidenta para merecer uma alusão injuriosa.

 A verdade é que Gaspari está mais perto do que gostaria de Azevedo; ambos do mesmo lado, em papeis complementares.

 Se o doutor ainda não sabe, já é tempo de saber, na origem, conteúdo e forma, o que difere o ódio antipetista da revolta contra a elite e contra quem a representa.

 * É jornalista


PS do Viomundo: A Folha é aquela que, em plena campanha eleitoral de 2010, publicou na capa uma ficha falsa da candidata Dilma e, em seguida, entrou em crise existencial por não descobrir se era verdadeira a falsidade; antes, foi o jornal que publicou na primeira página artigo de um psicanalista aeronauta acusando o governo Lula do homicídio de 200 pessoas num acidente aéreo cuja causa foi erro dos pilotos; deu espaço à tese de Lula estuprador na cadeia; espalhou o pânico com uma falsa epidemia de febre amarela e, mais tarde, dizimou milhares que ainda vivem com a gripe suína; depois de tudo isso, adotou a tese de que os blogueiros “espalham ódio”. É pra rir, né?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rio Verde moderna

 Dando seqüência ao último post, em comemoração ao aniversário de 164 anos de Rio Verde, no próximo dia 05 de agosto, vamos iniciar de onde paramos: a década de 1960, quando relatei que a cidade enfim, inebriava-se num breve período onde a dupla Mauro Borges (governador do Estado) e Paulo Campos (prefeito), inaugurava uma fase onde o centro de Rio Verde passava por sua modernização.   Ruas de terra ou calçadas com paralelepípedo em basalto davam lugar ao asfalto. O paralelepípedo teve uma outra destinação, e foi usado como guias de sarjetas das novas ruas recém-pavimentadas.  Os postes que sustentavam a rede de energia elétrica de aroeira, deram lugar a modernos postes de concreto e uma iluminação pública mais potente ganhava as ruas da cidade. Tudo da energia provida de Cachoeira Dourada.  Conta-se que a primeira rua a ser pavimentada foi a Rua João Belo, (atualmente, Rua São Sebastião no centro antigo de Rio Verde). E o asfalto ficou tão bom, que a necessidade de recapeamen

Um nome estranho; um bairro que nasceu para ser "setor"

Para quem já se 'cansou' de ler sobre a história do nosso município que nesse finalzinho de agosto -celebra seu mês de aniversário-, deve portanto saber, que a chamada "arrancada para o desenvolvimento" de Rio Verde, se deu a partir dos anos 1970.  O certo, é que a cidade seguiu o ritmo do tal "milagre econômico" dos governos militares daquela época. Mas sem dúvida, o que foi determinante em tudo isso, se deu com a fundação da Comigo, no ano de 1975.  Desde o final da década até o início dos anos 1980 porém, a expansão urbana de Rio Verde também sofreu um elevado aumento, sendo que essa situação provocou o surgimento de bairros cuja a única infraestrutura disponível, se deu somente na abertura de ruas e o traçado das quadras.  A especulação imobiliária por parte dos herdeiros de propriedades antes rurais, que margeavam os limites urbanos da cidade, abriu espaço para bairros onde atualmente se verifica sobretudo, a apertura das ruas, em que muitas delas nã

Globalismo Vs nacionalismo e o futuro da humanidade

O mundo sempre viveu conflitos entre interesses privados e coletivos; mas apesar de ser um termo novo o globalismo por sua vez, teve papel preponderante nisso, logicamente adaptado aos contextos de suas épocas.  Antes, na antiguidade, as primeiras civilizações já eram globais e dominavam outras, pela força. Não que hoje os métodos de dominação tenham mudado, porém para isso, se tornaram mais sutis, e não menos violentos.  Desse modo, a sensação de violência sofrida é que pode demorar algum tempo para ser sentida; o que não ocorre de maneira uniforme por todas as populações subjugadas.  Sem falar na corrupção, a maior aliada dos dominadores contra os subjugados. Assim, pessoas do lado dos oprimidos, se veem partidárias de seus opressores, em nome de possíveis vantagens pessoais adquiridas. Alexandre, o primeiro grande conquistador, certamente de modo involuntário, foi o primeiro a difundir o globalismo, através de seus exércitos. Porém, conforme diz sua história, ele teria chorado por n