Um sentimento maior de cidadania em que a cada dia os brasileiros se sentem mais parte da sociedade, tem exprimido também a sensação cada vez maior de que essencialmente os pobres estão se tornando mais participativos e mais atuantes na reivindicação de seus direitos naquilo o que se entende como regime democrático; os trabalhadores tomam maior consciência da importância de seus trabalhos e o impacto que causam para todas as classes sociais quando tomam a iniciativa de interromperem seus trabalhos.
Os garis que antes se comportavam como obedientes e invisíveis servidores na promoção do conforto dos ricos, fizeram diferente no carnaval mais famoso do mundo deste ano. Deixaram de ser meros coadjuvantes na apoteose do carnaval carioca ao se deixarem ser filmados pelas lentes das câmeras de TV sambando com suas vassouras, para protestarem por melhores condições de trabalho.
Se antes o carnaval alienava as massas 'cheirosas' (às quais podem pagar por seus caros acessos a uma festa que erroneamente ainda é dita como, popular), onde as mesmas se viam no torpor da morfina social no qual perdem sua sensibilidade em meio ao isolamento de seus camarotes, neste ano foi impossível ignorar mazelas sociais e principalmente sobre condições insustentáveis de trabalho dos garis, quando a classe média e mais ainda os ricos foram obrigados a se locomoverem por uma cidade com lixo acumulado por toda a parte.
Mesmo não contando com o apoio do sindicato o qual diz representar a classe, milhares de garis resolveram cruzar os braços e partiram para o protesto concorrendo em público com o desfile de "escolas'' de samba. Com isso, por ter sido considerada uma greve ilegal pela Justiça, o prefeito do Rio Eduardo Paes, anunciou a demissão de 300 garis e a contratação em regime de urgência de outros em caráter temporário.
A ausência do sindicato dos garis no Rio de Janeiro em relação à paralisação da classe, nada mais reflete a falência da representatividade sindical em nosso País. Sindicatos que existem para tão somente efetuarem a cobrança da tão propalada contribuição sindical sobre a folha de pagamento de seus 'representados', mas que não prestam o devido apoio quando estes o requerem. Muito menos assessoria advocatícia a estes que perderam seus empregos justamente devido a falta de respaldo sindical na greve, em decorrência da covardia do próprio sindicato que os diz representar; e que de forma generalizada, praticamente toma conta da maior parte deles sobre o restante dos demais trabalhadores que atuam em outras áreas.
Nossos desamparados trabalhadores ainda não tomaram consciência de que precisam se resguardar de todas as intempéries judiciais possíveis que possam se verem vítimas em casos de greves legítimas nos quais seus representantes sindicais se acovardam.
Mas infelizmente para isso, se torna necessária uma reforma na legislação trabalhista que contemple o direito de greve (regida pela Lei 7783/89), fora do âmbito de representatividade sindical; uma vez que ficando comprovada a leniência ou a omissão do sindicato quanto a condições insatisfatórias de trabalho e remuneração, os trabalhadores adotando a constituição de uma comissão de negociação - como previsto na lei em casos em que não há nenhuma representação sindical -, e que fosse investida dos mesmos poderes, no mínimo serviria como um contrapeso ao monopólio das decisões de lideranças sindicais que pouco se importam com o bem estar de seus associados.
A greve dos garis no Rio de Janeiro serve de alerta, de que a agenda por um País melhor não pode ser apenas aquela reivindicada pela classe média; que a qual deu um tempo nas manifestações de quebra-quebra, incêndios a veículos usados apenas por trabalhadores autônomos e pobres ou mesmo assassinatos involuntários de outros que cobriam a revolta niilista dessa mesma classe média - e que se diz explorada -, apenas para poder festejar o carnaval, mas que perdeu o discurso e se encontra mesmo, é sem causa.
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