O estado de Goiás foi desbravado por bandeirantes paulistas, sendo a primeira expedição chefiada por Sebastião Marinho no final do Século 16, com a descoberta das primeiras minas de ouro, onde entretanto, não houve interesse em seu povoamento.
Dos mineiros, herdamos o famoso "queijo-minas" que também ainda é largamente produzido de forma artesanal nas fazendas do interior goiano, e a comida caipira.
Com os migrantes do Nordeste do País, vindos no final da década de 1950 para Goiás, por influência indireta da construção de Brasília, parte do modo de falar caipira dessa região do Centro-Sul do Brasil, sofreu ligeiras modificações e não comprometeu de forma significativa a essência genuína do sotaque.
Somente por volta de 1726 ocorreu a fundação de sua primeira aglomeração urbana, por Bartolomeu Bueno da Silva (o qual, após incendiar uma pequena porção de cachaça numa cuia, ameaçando fazer o mesmo com os rios da região, ficou conhecido pelos índios através da alcunha tupi de "Anhanguera", que significa "velho diabólico").
Inicialmente conhecida como Vila Boa, recebeu mais tarde sua referência homônima à então capitania, como Cidade de "Goyaz" fixando-se assim como capital, cuja o nome foi originado ao redor da nomenclatura dos nativos os quais teriam supostamente existido nas cercanias, conhecidos como guayás, e mais tarde evoluiu para goyázes - que significa "pessoas iguais, de um mesmo povo".
Mais precisamente no sul de Goiás, aportaram famílias oriundas de Minas Gerais e São Paulo, que no Século 19 fundaram suas primeiras cidades, dentre elas Rio Verde.
Como até o ano de 1816, a região hoje conhecida como "Triângulo Mineiro", também foi parte de Goiás e em decorrência do enorme fluxo migratório provido de Minas Gerais, acabou sendo anexada por aquele estado (devido a reivindicações de suas oligarquias locais), ainda hoje, evidencia influências tanto mineiras, como também de Goiás e São Paulo, que são predominantes ali.
Nesse sentido, a cultura goiana, também herdou aspectos misturados em seu início, pelas influências tanto mineiras e paulistas (mais ao sul); quanto nortistas e nordestinas, ao norte - mais precisamente na porção territorial que então era parte de Goiás e que hoje pertence ao estado do Tocantins (embora o povo de lá, ainda preserve aspectos da personalidade goiana).
Dos mineiros, herdamos o famoso "queijo-minas" que também ainda é largamente produzido de forma artesanal nas fazendas do interior goiano, e a comida caipira.
Entretanto, a cozinha de Goiás a aperfeiçoou, surgindo daí o tipo de risoto mais amado pelos nativos do estado e que é chamado de "galinhada", que além do frango adicionado ao arroz, contém ainda outros ingredientes tais como uma certa espécie de palmito levemente amargo, típico do cerrado brasileiro, conhecido como "gueroba" e outro fruto, também genuíno do bioma do Brasil Central, o pequi.
Para quem é diabético, recomenda-se distância da ex-capital goiana, pois em cada casa colonial da antiga Vila Boa de Goyaz, os mais variados tipos de doces são capazes de fazer qualquer um perder a noção do perigo, se consumirem as deliciosas guloseimas produzidas artesanalmente pelas moradoras da cidade, elevando de forma perigosa, os níveis de glicose no sangue.
Já aqueles que moram em Brasília, podem fugir do agito da capital federal e se tranquilizar numa das aconchegantes pousadas de Pirenópolis - outra cidade histórica goiana bicentenária -, às quais também oferecem tudo o que a culinária de Goiás tem disponível, além é claro, do empadão goiano.
Mas nada supera o "dogão" goiano, que se trata de um tipo de sanduíche feito em lanchonetes próprias, construídas artesanalmente sobre estruturas metálicas que lembram os trailers nos Estados Unidos, que são conhecidas em Goiás, como "Pit Dogs" (o nome é uma mistura de "pit stop" com hot-dog, embora longe de se parecer ao conceito de um drive-thru, por fazer alusão a veículos - inexistentes - nos recintos).
A comida que é capaz de deixar marcas famosas de fast-food, tanto americanas quanto nacionais, no chinelo, tem contudo uma origem um tanto suspeita, na qual mais parece se tratar de um plágio do famoso hambúrguer, embora estranhamente usem a nomenclatura dos sanduíches, quase sempre acompanhada do prefixo "X" para a definição de cada tipo deles.
Dessa forma os sanduíches feitos pelos pit dogs goianos, são chamados de "X-Salada" (simples ou especial); "X-Burguer"; "X-Bacon" e o "X-Tudo" (que são todos os tipos de sanduíches em um único prato, para aqueles de apetites mais generosos).
A origem dos sanduíches é portanto desconhecida, mas pode ter tido influência ainda, tanto do bauru (criado no interior de São Paulo e que inclusive dá nome a uma cidade paulista), como do hambúrger americano.
Já o "X" como prefixo de cada tipo de sanduíche, pode ter se tratado de uma confusão com a palavra inglesa "cheese" (queijo), em que traz nas iniciais dos nomes de alguns lanches rápidos americanos; daí possivelmente como exemplo, "cheese-burguer", tenha sido de maneira equivocada, traduzido como "X-burguer".
Os pit dogs os quais produzem as referidas comidas rápidas, e que também podem ser chamadas como "dogão goiano", se tornaram patrimônio cultural de Goiás, assim como a galinhada (que é um prato inconfundivelmente goiano, para o restante do Brasil), recentemente recebendo esse status, por ser algo considerado único no País.
Outro detalhe muito interessante sobre os pit-dogs, é que ninguém se atreveu ainda, a criar uma marca forte o suficiente ligada ao conceito goiano de fast-food, ao ponto de se tornar uma franquia.
Saindo do pecado da gula, e partindo para outros aspectos culturais mais ligados à religião, a catira, que é um tipo de dança (antes apenas entre homens enfileirados frente à frente), na qual a performance se dá com palmas e sapateados, também é uma herança mineira na qual tem ainda, uma presença muito forte em Goiás e extensiva até ao norte e oeste paulista.
Mas na contramão dessa realidade, existe o congado: festa religiosa com danças de ligeiro toque afro, que foi mesclada a elementos da Folia de Santos Reis, porém dedicada a Nossa Senhora do Rosário, que é originária de Catalão (no sudeste goiano - município que faz divisa "de esquina", com Minas Gerais, através dos rios São Marcos e Paranaíba), e foi incorporado aos festejos dedicados à mesma santa tanto em Uberlândia, como em Uberaba, no Triângulo.
No que se refere ao estilo colonial de arquitetura das casas das cidades históricas goianas, embora não seja nada "copiado" de Minas, mas como peculiaridade de construção portuguesa, existe o risco (ainda que distante), de haver tal confusão no que se refere à esse ponto. Mesmo que tal releitura arquitetônica fosse reproduzida em diversos cantos do País.
Dos paulistas, essencialmente do interior nortista de São Paulo, herdamos parte de um sotaque que é próprio dessa porção central do Brasil e que varia um pouco de região para região, mas que foram compiladas no dialeto caipira nacional. O que naturalmente exclui gírias populares típicas de cada uma dessas regiões.
Portanto, "porta, portão e porteira", possuem a pronúncia peculiar da região do País composta pelo sul de Goiás, Triângulo Mineiro e o norte paulista, com ligeiras variações na expressividade tônica do "R" (mais aberta e que lembra o inglês norte-americano), isolando assim o "paulistanês" da capital e do litoral de São Paulo, de tom anasalado em função da forte influência da imigração italiana por lá.
As lanchonetes de rua, conhecidas como "pit dogs" tornaram-se patrimônio cultural de Goiás, após o governador Ronaldo Caiado sancionar a lei (foto: Reprodução). |
Ao contrário do que ocorreu no Mato Grosso, por exemplo, onde a intensa colonização gaúcha e paranaense, terminou por comprometer o sotaque do interior daquele estado, de tal modo, que apenas na capital, Cuiabá, é possível saber com precisão o modo de falar típico de um mato-grossense.
Sendo assim, qual é a nossa cultura? Por que as pessoas que aqui chegam não conseguem identificar a cultura goiana de forma clara? Muitas por puro descuido, mencionam a forte presença nordestina no estado, ignorando nossas próprias raízes. Por que isso acontece? Estamos perdendo nossa essência?
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