Nesta quinta (23), o Reino Unido, em decisão histórica, resolveu por meio de um plebiscito, ficar fora da União Europeia. Contudo é preciso explicar aos desavisados o que significa todas essas informações que mexerão muito com o tabuleiro geoeconômico do mundo. A União Europeia é o bloco econômico, político e populacional mais antigo do planeta. Surgido no pós-guerra, se fez como uma aliança entre nações da Europa para buscarem, sobretudo, cooperação econômica que garantisse a mais rápida recuperação dos países atingidos pelo choque bélico que durou de 1939 a 1945.
Por meio de um plano de recuperação econômica liderado pelos Estados Unidos, conhecido como Plano Marschall, o que inicialmente ficou conhecido como Comunidade Econômica Européia (CEE), foi produto também de outros acordos multilaterais dentre os países europeus arrasados pela guerra, que buscavam compensações econômicas por meio de acordos de livre comércio em áreas específicas como a do carvão e do aço, evoluindo para a política e também para a área de defesa, dentre os países membros.
A verdade é que tanto o Plano Marshall quanto o surgimento das comunidades econômicas, que mais tarde culminaram na União Europeia, mais a política do Welfare state (Estado do bem-estar social), tinham o claro objetivo de conter o avanço do Comunismo na Europa. Isso porém, não se deu apenas a questões localizadas da história, na pré-concepção do próprio bloco europeu, mas também, em torno de eventos recentes da história que envolvem países do leste da Europa, como a Ucrânia, por exemplo, como um modo de se reduzir a influência russa na região.
Com a evolução dos tratados e a adesão de mais países ao bloco europeu, a ideia de integração europeia começou a ganhar contornos de uma Europa tão unida, que no futuro os países que a compõem pudessem se mesclar de tal forma, numa única nação (isso, por sua vez, comprometeria a preservação de culturas próprias desses países). A consagração disso, se fez na adoção de uma constituição comum, para todos os países, a cidadania europeia para todos os cidadãos residentes em qualquer um dos países pertencentes ao bloco, a consolidação de uma estrutura financeira única na figura do Banco Central Europeu e por fim, na adoção do euro como moeda comum.
Enquanto o Reino Unido que hoje se desliga da União Europeia, também se recusou a adotar o euro como moeda corrente nacional (permanecendo assim com a libra), recentemente, o primeiro ministro ucraniano disse esperar que em vinte anos, o país passe a integrar o bloco de nações ricas do Velho Continente.
Porém o que mais preocupa são as consequências da saída da segunda maior economia da Europa do bloco econômico mais antigo e importante do globo, do que o consenso de aceitação para a entrada de países da periferia do continente a ele. A própria experiência europeia mostra que a adesão de países menores a blocos econômicos pode desencadear em vários problemas, como no caso específico da Grécia.
Outro temor, de acordo com o site da emissora de TV pública britânica, BBC, em vista do resultado do último plebiscito que ficou conhecido como "Brexit", é a desintegração do próprio Reino Unido, que na verdade é composto por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. A revelação do resultado explicitou contradições entre o desejo da maior parte do país de sair da União Europeia, em relação a Escócia, que em sua maciça maioria, votou pela permanência no bloco, por exemplo. Com isso adormecidas propostas de saída da Escócia da comunidade de nações britânicas ganha fôlego.
Portanto o que muda com a renúncia do Reino Unido à sua permanência na União Europeia, ainda desencadeará em novos acontecimentos. Poderá no mínimo, enfraquecer o bloco! Mas significa o seu fim? Contudo, como a vitória do "Brexit" britânico tem mais a ver com a pauta conservadora de direita, a preocupação passa a ser mesmo a de um possível fim da União Europeia. A líder de ultra-direita francesa, Marine Le Pen, já anunciou que defende algo semelhante ao plebiscito realizado no Reino Unido, que também defina a permanência da França no bloco europeu, como noticiou a RFI (Rádio França Internacional).
A Europa se arrisca a novamente se fragmentar, os litígios vão ficando cada vez mais evidentes e este foi apenas o primeiro dos pedidos formalizados de divórcio. Agora só resta saber como se dará a partilha dos bens.
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