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Quem disse que há democracia?

"Então morra, minha filha, morra"
Com uma frase dessas, um prefeito se referiu a uma moradora de área de risco na periferia de Manaus - capital do Estado do Amazonas - cuja a mesma já havia perdido parte de seus bens e ainda o que restava de sua dignidade de cidadã, à qual ela acreditava ainda possuir.

Algo do que há de mais deplorável e vil numa pessoa que brutalmente sabe demonstrar o que existe de pior em violência subliminar exprimida de forma verbal por uma autoridade eleita pelo sufrágio universal.

Diante das mais mesquinhas e violentas palavras que uma pessoa que... diariamente, sofre, em decorrência da pobreza, da falta de oportunidades, e ainda em decorrência de desastres naturais aos quais são vítimas rotineiras...  ter que ouvir de alguém que se compactua com a ilegalidade imobiliária, a grilagem de terrenos em áreas urbanas dentro do permissivo sistema da omissão de fiscalização de autoridades à aproveitadores que lucram exacerbadamente em cima de pessoas inocentes e ingênuas, comercializando terrenos em lugares impróprios para moradia. É algo que indigna até mesmo o mais superficial dos seres.

Sem saber, essa senhora, foi ofendida diversas vezes nessa negação à sua cidadania:

 Primeiro - Porque os pobres pagam mais impostos do que qualquer fidalgo da nobreza aristocrata nacional;

 Segundo - Se deve ao fato de que a carga tributária incidente em sua renda, consome 60% dela, apenas com os impostos que recaem no consumo de energia elétrica e alimentos, impossibilitando que ela consiga pagar prestações - com juros de país civilizado - de uma casa em local seguro;

 Terceiro - Por ser migrante e não exercer sua cidadania do voto, tendo em vista, a presunção adquirida - através da mídia - numa certa repulsa por parte das classes populares em relação à política, se afastando do processo político e consequentemente da intimidade com a democracia e assim do exercício pleno da cidadania.

 Quarto - Total desconhecimento de direitos e deveres, coagindo as pessoas mais simples, a adotarem práticas de negócios paralelos e ou informais, adquirindo bens sem a devida documentação legal.

Todos esses paradoxos ao bom senso cidadão, também refletem uma violência subliminar e sutil, onde impera os sofismas de 'ilegalidade permitida', de autoridades omissas e as quais não tem interesse em proteger as pessoas das armadilhas da informalidade, e que querem punir ainda mais, pessoas que se sujeitam às essas armadilhas, mas que de certa forma já estão sendo punidas, por perderem o pouco que têm em desastres ambientais.

O comportamento do prefeito é condenável e desprezível, pois no fundo quer dizer: "A senhora é maior de idade, e sabe dos riscos que está correndo", ou seja, uma responsabilização por algo que a inocente e indefesa moradora não tem culpa.

A imprensa local, (que deve ter ido ao local à convite do prefeito) tem também sua parcela de culpa, por não denunciar que pessoas trabalhadoras e ingênuas estão sendo enganadas, ao adquirir terrenos em locais impróprios e que tiram comida das bocas de seus filhos, para pagarem por aquilo que acreditam ser, fruto de trabalho honesto, mas que é ilegal e inseguro.

E depois dizem que o Brasil, é uma democracia consolidada, onde as pessoas vivem no chamado: 'Estado democrático de direito'. Mas que democracia é essa, em que um prefeito xinga uma cidadã e tudo fica por isso mesmo? Fora esse caso, temos inúmeros outros, como as filas por atendimento no Sistema Único de Saúde, ou por sempre tomar cuidado com o que falar, sobre o comportamento de patrões, autoridades policiais ou mesmo judiciárias e políticas.

Uma democracia, onde os ricos - quando são presos - detêm as mais variadas regalias pelo pouco de tempo que permanecem na prisão, quando não, a domiciliar, aquela do conforto de suas mansões.

Numa proporção em que os 10% mais ricos ficam com a metade de toda a renda nacional, e em que os restantes 90% têm que se contentar com, os outros 50% da renda que é produzida no país, sob risco de quebra de produção e geração de inflação de demanda. Essa é a grande âncora da desigualdade, e a fórmula parece que deu tão certo, que isso agora é adotado como discurso mundial, do: 'do quanto pior, melhor' por conta da alta nas cotações das principais commodities agrícolas negociadas internacionalmente, que são produzidas em grande escala no Brasil, mas que interfere nos preços dos produtos também no mercado interno. Tudo isso, "ajuda" pessoas como essa senhora hostilizada pelo prefeito, a permanecer perpetuamente pobre, desalentada, ofendida e humilhada pelo sistema.

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