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Rerum Novarum - E sua nova versão com Leão XIV

Robert Francis Prevost, auto nomeado Leão XIV (14), após ter sido eleito como 267º (ducentésimo sexagésimo sétimo) papa da Igreja Católica Apostólica de Roma, ironicamente nasceu em Chicago, no estado norte-americano de Illinois, terra em que se deu o revigoramento do liberalismo econômico, após um hiato de 30 anos com a implantação das políticas econômicas, conhecidas como keynesianas.

A ironia sobre a naturalidade do papa, se dá pela razão de logo em um de seus primeiros discursos como chefe da Igreja, deixar claro que a escolha do nome como sumo-pontífice, se deu exatamente pelas razões inversas ás quais dão vigor ao capitalismo predominante na atualidade.

Durante reunião com o Colégio Cardinalício, que é formado pelos cardeais que o escolheram papa, Leão XIV (14), disse que seu compromisso com as questões sociais, pesaram muito na escolha do nome pelo qual passou a ser chamado, desde a sua eleição no último dia 8 de maio. 

Prevost, salientou que se trata de uma homenagem ao último papa Leão, cuja o papado vigorou entre o final do Século XIX (19) e o início do Século XX (20).

O fato de sua cidade natal se tornar cenário para o revigoramento teórico da ideologia econômica liberal a partir dos anos 1950, inicialmente nos recintos acadêmicos, e implantado como política pública a partir da década de 1980 por intermédio de Milton Friedman, é sem dúvida, o grande paradoxo que pode colocar Leão XIV em rota de colisão com o grande capital globalista

Aquilo pelo qual ficou conhecido como Escola de Chicago, ou neoliberal, está intrinsecamente em oposição ao que Leão XIV se propõe a defender, por se tratar de um movimento ocorrido após a saturação das políticas de bem-estar social ou social-democratas, inspiradas em conceitos keynesianos e que a partir de então, afetou muito na qualidade de vida das pessoas de um modo geral.

Nativo norte-americano com cidadania peruana, Robert Prevost, foi aclamado papa Leão XIV pelo Colégio Cardinalício reunido no dia 08 de maio, após a morte do papa Francisco, em 21 de abril - Foto: Getty Images.

Leão XIII (13), que foi a inspiração de Robert Prevost, ficou conhecido por sua grande preocupação com a causa dos trabalhadores, através de sua mais famosa encíclica, Rerum Novarum ("Das Coisas Novas"), publicada em maio de 1891, em que expôs, as inovações tecnológicas da época, em plena vigência da segunda fase da Revolução Industrial - com a introdução do petróleo e da eletricidade como fontes de energia para força motriz das novas máquinas de então.

Mas muito mais que isso, Leão XIII, manifestou sua humanidade através da preocupação da Igreja Católica com as duras condições de trabalho, às quais o liberalismo clássico impunha aos trabalhadores da época, e que o liberalismo de Chicago ou o neoliberalismo de Milton Friedman, revigorou nos anos 1980; o qual está em vigência até os dias de hoje, apesar de cambaleante, desde a crise dos Estados Unidos em 2008.

Apesar de ter sido muito amigo de seu antecessor (Francisco), Leão XIV demonstra ter estilo próprio e mais pragmático, ao se desligar das causas identitárias que marcaram o papado anterior, reaproximando a Igreja com foco maior em pautas sociais clássicas, na defesa de fato dos mais mais vulneráveis. 

Aliás, o fato da estreita amizade entre Prevost e Bergoglio, foi outra razão intrínseca para a escolha do título papal.

Embora o primeiro papa Leão, o Grande, tenha vivido e conduzido a Igreja Católica, ainda no Século V, na transição entre a Idade Antiga para a Idade Média, foi por intermédio de frei Leão, cerca de 800 anos depois, a verdadeira inspiração de Prevost, pela escolha de seu título papal. 

Frei Leão foi um dos mais notáveis membros, dentre os primeiros franciscanos, e companheiro fiel de São Francisco de Assis, por volta de 1220, no Século XIII, auge da Idade Média.

Leão foi assim, apelidado pelo próprio Francisco de Assis, conforme narrado em uma crônica, extraída do livro "O Pobre de Deus", de autoria do grego Nikos Kazantzakis, descrito em post no site da rede de TV britânica, BBC Brasil

Portanto, a escolha de Leão XIV por Prevost, além da necessária lembrança papal nos dias atuais a Leão XIII, foi ainda, uma forma de homenagear o amigo, falecido há pouco mais de um mês, em alusão a frei Leão e sua amizade com Francisco de Assis. Algo simplesmente sublime. 

Título da encíclica Rerum Novarum, escrita pelo papa Leão XIII em maio de 1891; documento já criticava o comunismo, antes de sua implantação na Rússia, a partir da revolução de 1917 - Foto: Reprodução/ Vaticano.

Assim, a exemplo de Leão XIII, Robert Prevost, assinala o novo contexto com a causa social, sob a batuta da preocupação com o trabalho, sobretudo, em torno do que classificou como desafios da chamada Indústria 4.0, ou o que se convencionou chamar de quarta fase da Revolução Industrial em curso, que faz uso de um novo conceito tecnológico chamado de Internet da Coisas (IoT), e as inteligências artificiais.

Os novos fatores de tecnologia nos processos produtivos fabris, podem precarizar condições de trabalho pelo mundo, essencialmente com a tendência à completa substituição da mão de obra humana, por máquinas, nos processos de produção de bens e serviços; algo que pode inclusive, por o próprio capitalismo liberal sob séria ameaça, uma vez que sem massas salariais dispostas ao consumo, o modelo econômico como o conhecemos, pode simplesmente ruir.

Globalismo, malthusianismo ambiental e o cenário global para o novo papa

Embora esteja claro a substituição humana nos processos de produção industrial, devido ao massivo uso das tecnologias, se tratando de uma obviedade para o futuro próximo da humanidade, e através disso, promete lançar milhões de pessoas à miséria nas próximas décadas, faz da cruzada de Leão XIV ainda mais incisiva ao redor dessa pauta. 

Mas a agenda globalista ambiental pode já estar concebendo sua solução própria para isso, logicamente dentro de um contexto que envolva interesses daqueles que compartilham do mesmo programa do globalismo; ainda que haja a crença de que 8 bilhões de seres humanos na Terra, seria visto por eles como insustentável, do ponto de vista ambiental e haja propostas no sentido de racionar ou restringir o acesso a recursos naturais como modo de preservação do meio ambiente global.

O Great Reset (Grande Reinício), foi concebido após a pandemia de Covid-19, pois se acreditava que o mundo mudaria de uma forma inédita a partir de então, o que não ocorreu, tendo em vista que até mesmo durante seu curso mais intenso, entre 2020 e 2021, nem os mercados financeiros, as bolsas de valores e as corretoras de investimentos, deixaram de funcionar, a exemplo de todas as outras atividades produtivas.

A própria ideia de "reinício" global sugerido pelo Fórum Econômico Mundial e de certo modo, corroborado por outras entidades globais, tais como a ONU, que propôs a Agenda 2030 com metas cartesianas para esse propósito de redesenho do mundo, tem como notória, a noção intrínseca de algo ocultado nas entrelinhas, ainda que seja veementemente negado e visto de forma pejorativa sob o carimbo de "teoria da conspiração", por meio da desconfiança natural da população ao redor de agendas do tipo.

Autoridades brasileiras ligadas ao meio-ambiente, participam de reunião do Fórum Econômico Mundial, sediado em Davos, na Suíça - Foto: Divulgação.

O reordenamento da organização social e econômica do mundo, imposto de cima para baixo, sem nenhuma intenção de uso dos instrumentos democráticos, que considere os anseios da população sobre as propostas elaboradas por um grupo de ultra ricos dispostos a "salvar o mundo" (e não tanto, a humanidade), se faz como algo muito mais complexo, que supostas boas intenções de um bando de bilionários bonzinhos.

É dentro de toda essa dinâmica global que Leão XIV inicia seu papado, tendo como sua responsabilidade, conduzir a Igreja Católica em meio a tantos interesses difusos e mal explicados, os quais os grupos dominantes deixam a subentender, de que não importa o que haja, jamais renunciarão ao controle que possuem sobre a humanidade.

Desafios 

Enfim, o papa terá de convencer os globalistas que Deus está no comando da Terra e que 8 bilhões de pessoas nunca foi problema para a vida sustentável no planeta. O questionamento levantado pelos oligarcas globais, que afronta a doutrina católica em defesa da vida sob quaisquer circunstâncias, sugere controle de natalidade ou até a possibilidade de novas pandemias que providenciassem reduções populacionais. 

E nessa dinâmica de preocupação exacerbada com a sustentabilidade da vida na Terra em nome do bem-estar ambiental, evitando agravamentos ao redor das mudanças climáticas, com teses sustentadas por estudos financiados pelas oligarquias globais os quais apontam, estaria acelerado, está inclusive a ideia de limitação do direito ao trabalho.

Algo porém, é ignorado pelas oligarquias globais, em suas empreitadas para salvar o mundo, onde o riscos políticos de um novo conflito bélico mundial, desta vez de proporções atômicas, em nada esboçarem neles, a mesma reação de oposição ou inquietação, tal como, manifestam com relação a atividades econômicas que garantem sustento salarial a milhares de famílias.

Apesar de a Agenda 2030 pregar justiça social e combate às desigualdades econômicas, é sabido que as figuras mais proeminentes ligadas ao Fórum Econômico Mundial, financiam grupos de militância para causas destoantes sobre demandas muito mais antigas e não plenamente atendidas das massas empobrecidas.

O direito a uma vida digna, com trabalho, segurança alimentar e habitacional, alicerçada na institucionalidade da família que são pautas tradicionais da Igreja Católica, esbarram a outras demandas em torno de minorias, como a luta contra o racismo, o feminismo, com destaque pelo aborto irrestrito, além das ideologias de gênero do meio LGBTQI+, e claro também, a causa ambiental.

Logicamente a Igreja não defende discriminações de qualquer tipo, mas com Leão XIV, anuncia-se a tendência da volta à reflexão ao redor de temas menos complexos, por se tratarem mais convencionais e longevos, sugerindo certa rota de colisão com a agenda globalista, dúbia e cheia de lacunas não devidamente esclarecidas, razão que inclusive alimenta especulações conspiracionistas, criticadas pela imprensa mainstream. 

Post do jornalista Ricardo Feltrin na plataforma X 
(antigo Twitter), em que menciona a entrevista de uma 
uma acadêmica, responsável por estudos financiados 
por entidades globalistas, sobre supostos riscos das  
redes sociais - Foto: @feltrinoficial/ X. 

Principalmente quando se sabe que os oligarcas globais, também se empenham sobre diversas formas, no sentido de silenciar o direito das pessoas de se expressarem nas redes sociais, patrocinando estudos que abordam o suposto perigo representado pelas redes sociais, quando na verdade o que se pretende, é o pleno controle de narrativas que se moldem aos interesses dessas oligarquias globais.

E dentro dessa conjuntura, Leão XIV começa a ser lembrado, essencialmente pela imprensa alinhada a essa oligarquia globalista, sobre escândalos nos recintos católicos, envolvendo sacerdotes, sejam de cunho libidinoso ou financeiro. Sobre o primeiro ponto, o novo papa já é criticado porque teria mantido segredo em torno dos escândalos de pedofilia investigados por ele.

Os globalistas já teriam um plano para silenciar Leão XIV, assim como fizeram com Bento XVI e Francisco? Cabe aos católicos conscientes, manifestar apoio e orações pelo sucesso do papado de Robert Prevost, o primeiro norte-americano, naturalizado peruano a se tornar papa. 

Vida longa a Leão XIV!

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