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A indústria em Rio Verde

Especial mês de Aniversário de 175 anos

Recentemente a equipe de reportagem do jornal Folha de S.Paulo, esteve em Rio Verde para fazer uma matéria jornalística sobre o potencial agroindustrial do município, que completou 175 anos de emancipação política no início deste mês.

Com o título: "Grãos redesenham economia de Goiás e em 40 anos impulsionam o desenvolvimento das cidades", o repórter Marcelo Toledo, iniciou seu artigo, trazendo o acontecimento da união de 50 produtores rurais que mais tarde deu origem à maior cooperativa agrícola da Região Centro-Oeste do Brasil, relatado por ele, como ocorrido no final dos anos 1970.

O desafio de industrializar Rio Verde era então assumido por esses arrojados produtores rurais, com a instalação da primeira esmagadora de soja em 1980, à qual hoje produz óleo de soja refinado e deu à Comigo, um faturamento anual na ordem de R$ 15,6 bilhões. Mais que o Produto Interno Bruto (PIB), do município de R$ 11,9 bilhões, registrado pelo IBGE em 2020.

Com isso a cooperativa rio-verdense, pode estar ocupando hoje, a 5ª ou 6ª colocação dentre as maiores empresas do ramo no país, além de se figurar entre as 300 maiores do mundo (na posição 272); sendo ainda, a maior do agronegócio, genuinamente goiana. 

Desse modo, as exportações de Rio Verde saltaram de US$ 1,8 bilhão em 2021, para US$ 4,5 bilhões em 2022, o que faz o município do sul de Goiás, ser o maior exportador do estado.

Vista de Rio Verde, a partir da Praça João Paulo II - Foto: Gabriela Miranda.

Porém é importante mencionar que sem a infraestrutura básica trazida sobretudo, pelo governo federal à região, nada disso seria possível. 

Já em 1960 a construção da rodovia Brasília-Acre (atual BR-060), além da construção dos novos silos de armazenagem de grãos da Cibrazen, da subestação de energia elétrica de Furnas e das torres telefônicas da Embratel, o município pôde enfim, se abrir ao progresso.

Portanto, a maior parte da infraestrutura existente em Rio Verde, é proveniente de iniciativas no âmbito federal, de vários mandatos de governo que se passaram. Investimentos que se intensificaram, a partir dos governos militares no início da década de 1970. Não sendo quase nada, provido por diferentes gestões estaduais em todo esse tempo.

Algo que representa um enorme contraste, no cuidado verificado pelos governos estaduais, no empenho pela melhora contínua da infraestrutura [goiana], concentrada em cidades ao redor da capital do estado.

Em 1986, Rio Verde já contava com cerca de 90 mil habitantes, tendo já seus 6 primeiros prédios de apartamentos erguidos, iniciando o processo de verticalização da cidade; ano em que o município viveu sua melhor fase, registrando um nível médio de ocupação quase de pleno emprego; o que fez com que todo aquele progresso "precisasse" (de certo modo) ser contido, para que os salários voltassem a se desvalorizar.

Com o fracasso do Plano Cruzado e a volta da hiperinflação em 1987, Rio Verde viveu um período de quase dez anos, com oscilações econômicas entre a estagnação, e a completa recessão; fazendo com que municípios equivalentes no Centro-Oeste, como Rondonópolis (MT) e Dourados (MS), tivessem maior dinamismo no desempenho de suas economias, e na redução de seus índices de pobreza no mesmo período. 

Tanto que em meados dos anos 1990, era visível a necessidade de instalação de uma nova indústria, que amenizasse o clima de estagnação vivido em Rio Verde; com isso, entre idas e vindas, e até de sabotagens internas e externas, o município perdeu muito de sua força industrial; tudo para manter a soja, como o principal carro chefe em sua economia.

Trecho em pista simples da BR-452 entre Rio Verde e Itumbiara, é alvo de críticas de motoristas - Foto: Marcelo Toledo/ Folhapress.

Nos últimos 40 anos, desde a frustrada possibilidade da instalação de uma montadora de tratores chineses, até uma fábrica de extratos de tomates da Unilever, que só funcionou por 2 anos (1999-2001), Rio Verde também teve reduzido, algum dinamismo na área. Algo em parte compensado com a instalação da Perdigão há 23 anos, que possui uma das maiores unidades em atividade no município. 

Frustrada a primeira iniciativa de consolidação do processo de industrialização de Rio Verde, já com a cidade rompido a marca de 105 mil moradores em 1994, uma grave recessão atinge produtores rurais do município, devido aos primeiros impactos do Plano Real, sobre a economia local; algo tão grave, que fez a população retroceder para 100,6 mil habitantes, dois anos depois.

Com a primeira desvalorização do real em 1998, as cotações das commodities agrícolas começam a reagir e o aumento das exportações de grãos, deu algum fôlego aos produtores rurais que conseguiram sobreviver àquele período, os quais porém, prosseguiram ainda, altamente endividados.

Já no ano seguinte, os índices de desemprego caem vertiginosamente, com o início das primeiras contratações das novas fábricas em processo de instalação na cidade. Em 1999 o clima de euforia vivido em Rio Verde, chamou a atenção de editores da revista Exame, que enviaram uma equipe de reportagem ao município, para registrar o novo ambiente de otimismo vivido pela população.

Em junho de 2000, a Perdigão enfim inicia os primeiros abates de suínos; a produção de linguiças calabresa e toscana, além de bacon; e em outubro do mesmo ano, iniciava também, as atividades em seu frigorífico de aves. Em 2001, a fábrica de empanados de frango, produzia seus primeiros lotes em Rio Verde. 

Caminhões fazem fila em silo, para descarregar grãos na região de Rio Verde (GO) - Foto: Marcelo Toledo/ Folhapress.

A *crise de energia com os apagões de 2001, terminaram por servir de estopim para o fim das atividades da Unilever em Rio Verde, transferindo toda a produção de extratos de tomates e catchups para a capital do estado, após a aquisição da empresa goiana Arisco, pela multinacional britânica.

Em 2009 com a fusão dos dois maiores players em carnes industrializadas do país, Sadia e Perdigão, origina-se o surgimento da Brasil Foods, mais conhecida hoje por seu acrônimo, BRF; mantendo suas atividades em Rio Verde e ampliando a produção de sua unidade no município. 

Com isso, Rio Verde também passa a exportar carnes de aves para os mercados saudita e asiático, e de suínos, para a Rússia e Japão.

A "cereja do bolo" para ornamentar a líder da balança comercial de Goiás, se deu há dois anos, com o início das atividades do terminal da Ferrovia Norte-Sul, administrado pela Rumo Logística, em Rio Verde; acabando por reduzir muito, os custos com fretes, os quais antes, tornava preciso o deslocamento de caminhões até o terminal de Araguari (MG), para depois seguir de trem aos portos.

Com o terminal intermodal da Rumo, já se instalaram fábricas misturadoras de fertilizantes e bases distribuidoras de combustíveis; mas a indústria continua desprivilegiada, não contando ainda, com um terminal de containers para reduzir custos das exportações de carnes de aves e suínos, produzidas pela BRF; às quais ainda saem de Rio Verde por caminhões até os portos. 

Outro seguimento frigorífico que continua parado na cidade, é o de carne bovina, onde o município perde importantes mercados.

Unidade da Crown de Cabreúva (SP); empresa também instalou, há cerca de 3 anos, sua planta industrial para produção de latinhas de cerveja e refrigerantes em Rio Verde - Foto: Divulgação.

Rio Verde conta ainda, com unidades industriais da Cargill (óleo e farelo de soja), Klabin (laminados para embalagens de papelão ondulado), Videplast (embalagens e rótulos plásticos), Mosaic (fertilizantes), Triel HT (implementos rodoviários), Brasilata (embalagens metálicas para tintas e bebidas), Grupo Cereal (processamento de soja), Louis Dreyfus (processamento de milho) e Crown (embalagens metálicas para bebidas).

Apesar de o município ainda desperdiçar oportunidades, a reportagem da Folha menciona também, que o PIB de Rio Verde cresceu 188% entre 1986 e 2023, de acordo com levantamento feito pela MB Associados. O que representa cerca de 80% acima da média brasileira no período, que registrou crescimento de 108,7% do Produto Nacional Bruto.

*A crise nacional de energia elétrica de 2001, serviria depois -por 16 anos seguidos- para que autoridades municipais argumentassem contra a instalação de novas indústrias em Rio Verde

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