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Inflação, expansão monetária e juros

No geral as pessoas não se interessam por economia, mas acabam sendo obrigadas a ter uma compreensão mínima sobre o tema, à medida que suas vidas financeiras não estão indo de modo satisfatório, com suas rendas menores que os preços de gêneros de primeira necessidade que costumam adquirir.

Apesar das complicações dos termos técnicos usados pelos economistas, a ciência econômica não é tão difícil de se entender; e ainda que se trate de uma ciência humana, seu entendimento é simples se observada através da boa e velha matemática; principalmente quando se sabe que as receitas devem ser maiores que as despesas.

Todo o resto é estratégia para se chegar a esse objetivo.

Desde um assalariado a um grande investidor, a percepção que reina é que a renda deve ser protegida da inflação; nesse sentido, a inflação deve ser controlada para que também não afete o rendimento das empresas, já que inflação negativa (ou deflação), pode levar empresas à falência, por terem adquirido estoques a preços superiores que os comercializados.

A história por trás da inflação

Nada melhor que a ciência econômica para nos ajudar a compreender como a alta generalizada de preços, definida por inflação, pode ocorrer em uma economia. Principalmente depois de um vídeo que circula pelas redes sociais com a explicação técnica de um dos mais brilhantes economistas de nossa história, o tema ganhou ainda mais relevância.

Roberto Campos foi o economista que na presidência do BNDES, colaborou com o plano de metas do governo Juscelino Kubitschek, foi criador do FGTS, fundador do Banco Central do Brasil no governo Castello Branco, e é avô do atual presidente da autoridade monetária nacional, viralizou com um vídeo onde apontou as causas da inflação.

Roberto Campos (1917-2001) foi um dos
mais brilhantes economistas da linha liberal
no Brasil - Foto: Wikipedia.

Em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva em 1991, Roberto Campos brilhantemente disse que inflação não é "alta de preços", mas expansão monetária, ou seja, emissão demasiada de papel moeda na economia. 

A considerar a época em que a entrevista foi concedida, essa definição sobre inflação de Roberto Campos, acabou por indiretamente, apoiar o confisco generalizado de depósitos bancários do Plano Collor (1990), que teve exatamente como finalidade, o enxugamento do excesso de moeda (dinheiro) em circulação na economia.

No fim, o Plano Collor não estava errado, pois conseguiu trazer a inflação mensal de 80% para a metade disso ao mês; só para termos de comparação, a inflação de todo o ano de 2022 foi de 5,8%. Uma inflação portanto de 80% ou 40% ao mês, é realmente um exemplo do quanto o Brasil já foi um país bem mais complicado de se viver no passado. 

Mas outros problemas de ordem fiscal do governo da época (gastos muito acima das receitas), déficit de entradas de moeda estrangeira na economia e baixo estoque de poupança interna, mais o endividamento externo brasileiro, foram ingredientes que fizeram a inflação permear por mais algum tempo, na vida das pessoas.

Expansão monetária

Nesse entendimento da expansão monetária trazida por Roberto Campos, é importante sabermos como tudo isso começou; desde que o imperador bizantino Nicéforo III se viu na necessidade de empreender uma guerra contra os turcos no ano de 1078, decidiu reduzir o percentual de ouro nas moedas que circulavam pelo império, aumentando a parcela de metais menos nobres, para cobrir os custos com a guerra.

O resultado dessa manobra monetária do imperador é que os comerciantes passaram a exigir mais dinheiro para que as pessoas comprassem as mesmas quantidades de bens que adquiriam antes, já que o percentual de ouro (o que realmente dava valor ao dinheiro), havia sido reduzido na cunhagem das moedas do Império Bizantino, surgindo daí, a inflação.

Com o passar do tempo, os problemas dos governos e seus gastos foram resolvidos, não mais através da emissão de dinheiro na diferença entre suas receitas insuficientes para cobrir suas despesas, mas através da emissão de dívidas públicas, onde o governo faz a captação do dinheiro necessário com agentes financeiros privados em troca do pagamento de juros.

Homem de guarda-chuva caminha num dia chuvoso, em frente ao edifício sede do Banco Central em Brasília - Foto: Cristiano Mariz/ Agência O Globo.

Desse modo, os liberais estão certos ao afirmarem que excesso de dinheiro numa economia é fator gerador de inflação.

Para ilustrar melhor sobre isso, o economista e colunista da Folha de S.Paulo, Samuel Pessôa dissertou sobre o fim do padrão-ouro com o surgimento das moedas fiduciárias e como os economistas resolveram esse problema através da política de juros acima do percentual neutro.

Juro neutro é a taxa que não altera a inflação de modo que nem a faz acelerar ou desacelerar.

Pessôa relata ainda, que "os juros no Brasil são elevados pois o juro neutro também é elevado -entre outros fatores, nossas baixíssimas taxas de poupança explicam o juro neutro elevado-, mas também porque o equilíbrio entre oferta e procura no Brasil é pouco sensível às taxas de juros".

Fatores que nos fazem dependente de investimentos externos, ou de pelo menos, uma melhor performance em nosso saldo de transações correntes; afinal o Brasil ainda tem pautas de exportação de baixo valor agregado e não tem tantas multinacionais espalhadas pelo mundo que remetam lucros para sua economia doméstica.

E nesse contexto da poupança interna, vale novamente lembrar Roberto Campos por ter tido a brilhante ideia do FGTS, que na atualidade funciona mais como um instrumento de poupança compulsória, mas que precisa ser repaginado, para pelo menos oferecer rendimentos acima da inflação e opções de saques onde o trabalhador possa fazer melhor uso do seu dinheiro.

Mas inflação alta também pode ser evidência de economia estagnada; porém, a economia não pode simplesmente ser estimulada a crescer ampliando o gasto público de modo a gerar mais inflação. Agora com o Banco Central com mais autonomia, o chamado "mandato duplo", requer da autoridade monetária, um olhar também para o crescimento do PIB.

Crescimento baixo, não pode ser explicado por ideias simplistas de que as pessoas devam trabalhar mais; algumas devem trabalhar menos e com isso, gerar espaço para que outras possam trabalhar. 

Não é muito menos, o empreendorismo de camelô que salvará o país do baixo crescimento, para nos livrar da inflação, mas sim, a geração de empregos estáveis de boa qualidade e bem remunerados, que no longo prazo, nos garantam crescimento sustentável da economia. 

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