Em tempos que se fala em limpeza humana nas ruas de cidades de médio e grande porte no Brasil, ações pastorais são escassas, mas não menos, importantes. A situação de milhões de pessoas moradoras de rua, de todas as faixas etárias, de abandono, de vícios, subemprego..., refletem as poucas iniciativas, tanto de autoridades - que quando as executa, o faz sempre, de forma coercitiva e aplaudida de pé por muitos - quanto de entidades filantrópicas, ONG'S ou religiosas. Mesmo no seio de muitas igrejas, sejam elas Católicas ou não, persiste a mentalidade do: "Tudo aquilo que se planta, colhe". Que em outras palavras, trata-se da mais pura indiferença ao sofrimento e à dor do ser humano, responsabilizando sempre a culpa das desgraças pessoais dos indivíduos de rua, como sendo própria dos mesmos, ou porque esses moradores de rua, são sistematicamente culpabilizados pela situação que vivem, por terem se afastado de Deus (leia-se: Procurar os religiosos e não o contrário).
A clausura em muitos templos religiosos, pode na maior parte das vezes, contribuir para essa insensibilidade, e que é também, até consciente, sendo muito pouco perceptível, esforços pessoais destes religiosos, na reversão desse comportamento. Nesse sentido, ao ler os Evangelhos, percebe-se que seu maior protagonista e razão da fé, da maioria dos religiosos brasileiros, ao contrário, não ficou na clausura. Partiu para ações de campo, sem ficar atazanando ou sendo um evangelizador impertinente, que faz prosélitos quase à força e por persuasão ou indução. Sempre de maneira serena, mas convicta, Jesus... "ía aos doentes que precisavam de médico", onde todos os excluídos tinham a oportunidade de ouvir que a derrota imposta pelo mundo à eles, era perfeitamente transponível.
O status quo, dessa realidade está intimamente ligada à mentalidade eclesial, principalmente de leigos, de que moradores de rua, se encontram nessa situação apenas pelo estrito afastamento deles da Palavra, e por seus pecados e que aí está a razão de ser, passíveis de sofrimento. Ignoram que o pecado lato sensu - digamos assim - é numa visão ampla, a real causa dessa exclusão - isto é, a de uma situação imposta pelo sistema - mas muito pouco, do ponto de vista stricto sensu, no sentido da pessoalidade ou de um sofrimento consequente de afastamento voluntário dos moradores de rua, dos recintos religiosos.
Nas raras ocasiões de pleno cumprimento do Evangelho, encontramos pessoas como o padre Júlio Lancellotti, que presta atendimento aos moradores de rua em São Paulo, à mais de 25 anos. Uma ação pastoral viva e presente, reconhecida por entidades de renome nacional e internacional, como prêmios concedidos pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2000; O prêmio OPAS da Organização Panamericana de Saúde em 2003,(através da entidade fundada por Pe Júlio: A Casa Vida); O Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2004; Como coordenador da Pastoral do Povo de Rua, pela Arquidiocese de São Paulo, recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, na categoria livre; Menção honrosa do Prêmio Alceu Amoroso Lima, também de Direitos Humanos; Prêmio dos Direitos Humanos concedido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, categoria "Enfrentando a Pobreza" em 2007. Pe Júlio Lancellotti é também Doutor Honoris Causa pela Universidade São Judas Tadeu e PUC-SP em 2004.
Padre Júlio Lancellotti
Foto:UOL
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Pe. Júlio é responsável na sua participação, da criação das pastorais: do Menor e da Criança. Tendo auxiliado até mesmo na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (Seria por conta disso que a imprensa tem batido tanto na tecla da pedofilia? Será?!). Através da Casa Vida, presta serviços de atendimento à crianças portadoras do vírus HIV, desde 1991. Está à frente de programas como a "A Gente na Rua", sendo auxiliados por agentes comunitários de saúde, ex-moradores de rua, atendidos por Pe Júlio.
Infelizmente Pe Júlio foi vítima de seu próprio trabalho, sendo acusado injustamente de pedofilia, por alguns dos jovens atendidos por seus programas de assistência. O caso teve ampla repercussão na imprensa, mas obteve um desfecho satisfatório com a condenação, em meados do ano passado do casal envolvido na extorção ao Pe Júlio, razão pela qual havia sido acusado por pedofilia.
A vida de Pe. Júlio pode ser sintetizada no exemplo dado por Jesus no Evangelho: Da "casa construída sobre a rocha". Uma reputação construída com muito trabalho, amor e dedicação pela sensibilidade ao sofrimento dos excluídos, ou quem sabe... daqueles que não possuem a 'marca da besta'.
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